O QUE DIRIA MALHOA DE UM FIGUEIRÓ A PRETO E BRANCO?

Quis crer que seria um Sábado perfeitamente normal. Levantei-me cedo (ossos do ofício) e tive uma manhã produtiva. Apesar do calor que...


Quis crer que seria um Sábado perfeitamente normal. Levantei-me cedo (ossos do ofício) e tive uma manhã produtiva. Apesar do calor que se fazia sentir (vocês sabem como fico melindrada com o calor), foi um dia que começou feliz. E eu só me pergunto: como pôde um dia assim ter um final tão indiscritivelmente trágico? Estou bem...por fora. Por dentro, o meu coração está numa luta constante para não chorar. Fisicamente, nada me aconteceu. Nem sequer vi de tão perto os horrores por que passaram aqueles que deram tudo para se proteger e proteger os seus, as suas casas, os seus bens. Fui afortunada. Outros não tiveram a mesma sorte. Sinto a dor deles como se fosse minha. 
Confesso que, por algum tempo, estive um pouco alheia ao rebuliço das sirenes. Só me apercebi da realidade da situação ao chegar à minha varanda e me deparar com o cenário aterrador que circundava a minha vila, Figueiró dos Vinhos. Quase imediatamente, a luz começa a falhar e as comunicações tornam-se difíceis. Um perfeito filme de terror. Só que não era nenhum filme, era a vida real, diante dos nossos olhos. E em nós, apenas o sentimento de impotência perante a desgraça alheia, que também era nossa. Sem meios de comunicação, os acontecimentos chegavam-nos através de vizinhos e conhecidos, por vezes através de chamadas de amigos e família quando a rede o permitia. E nos meios pequenos tudo se sabe, é certo. E as mensagens de dor e sofrimento começavam a chegar. A "estrada da morte" apanhara famílias inteiras, crianças, idosos... As nossas aldeias engolidas pelo fogo. Eram os nossos amigos, os nossos familiares, os nossos conhecidos. Todos nós perdemos algo naquela noite. Eu sei que perdi... 
Agora, há todo um trabalho pela frente. O Município de Figueiró dos Vinhos, em conjunto com os Bombeiros, a Cruz Vermelha, CLDS de Figueiró e tantos outros voluntários, tem feito um trabalho de excelência no que toca a sinalizar e ajudar as famílias que perderam tudo neste incêndio. O cansaço bem nos quer atrapalhar mas ninguém irá descansar até estar tudo minimamente estabilizado. Se quiserem ajudar Figueiró, ou qualquer um dos outros municípios atingidos por esta tragédia, basta dirigirem-se ao quartel de bombeiros da vossa residência e com certeza irão informar-vos sobre como ajudar. Está também a circular um NIB para doações, vou deixar a imagem no final deste artigo. 

A nossa "Sintra do Norte", o nosso "Figueiró das Cores", resume-se agora a um Figueiró a preto e branco. E o que diria Malhoa de um Figueiró sem cor? 


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